terça-feira, 19 de maio de 2009

17 Anos

Viver codificando imagens em letras foi tudo que eu aprendi, não digo isso apenas pra chocar ou causar piedade, porem quanto mais sei do mundo menos sei de mim mesma.Ando sempre atrasada, uns dias culpo o trânsito, nos outros culpo suicídios no metrô. Suicídios que nunca de fato presenciei, mas vira e mexe penso nisso, olhando a paisagem mórbida da janela do vagão imagino inúteis se atirando da linha amarela só pra atrapalhar o progresso, atrasar os trabalhadores, prender a atenção dos estudantes, todos se tornariam nessa ocasião expectadores da falta alheia de ganância e ambição.Possivelmente não acrescentarei nada para o mundo, nem ao menos 10 minutos de “frisson” geral como faria meu amigo suicida imaginário, mas também acho que não é preciso, a essa altura estaria feliz em apenas viver, mesmo que sem registros, mesmo que sem amores.Não digo que isso não seria triste, porque seria trágico ficar permanentemente desapaixonada pelo mundo, mil vezes o sofrer do que o nada sentir, culpa dos dezesseis que me impuseram essa visão absurdamente romântica da vida.Culpar o romance também é algo que sempre me confortou muito, como diria meu companheiro Albert:Nessa vida é preciso ser macho demais pra se permitir chorar por uma mulher.Eu e meus dezesseis já choramos e muito, não que eu me arrependa disso, pelo contrário... Mas contra a minha vontade meus olhos já secaram e a admiração que antes eu alimentava com tanto carinho morreu de fome, meus planos se distorceram em segundos e aqueles que eu mais amei se tornaram por ausência minha tão desprezíveis quanto aqueles que eu odiei.E com esses dezessete chegando, com essa minha cabeça fervendo de tanto questionar a mim mesmo acabo deixando os parágrafos e as teorias de lado. Talvez seja assim que eu me encare: um bando de idéias, sonhos e alucinações esperando pelo dia de serem compreendidos.A verdade é que não importa se são os dezoito, os dezenove ou até mesmo os vinte anos que eu um dia pretendo fazer, a verdade é que eu vou ser sempre igual, o mesmo cara decente com cinqüenta ou trinta, daqueles que nada conquistam de muito grande na vida porque nem precisam disso, que planejam com cautela cada detalhe de como vão transformar um salário de fome em uma casa com gramado, cachorros e filhos, muitos filhos... Todos parecidos com a mulher que encontrarei um dia desses e amarei pra sempre com a fidelidade de um padre e a paciência de um monge.Sou só um cara prestes a fazer dezessete e que antes dos vinte pretende conhecer o mundo inteiro com um violão nas costas, o tipo que não liga pra futilidades físicas, que tentou, mas não gosta de pagode ou qualquer coisa que tenha a ver com aquilo que todo mundo gosta, e invariavelmente já não pode mais negar que certos movimentos parecem vazios. Essa é a minha palavra preferida: vazio.Não sei bem o que quero, mas sei exatamente aquilo que nunca hei de querer, mil vezes minhas esquisitices ao vazio dos comuns, mil vezes meus incensos, leituras de poesias e planos artisticamente fracassados do que ser um cara normal, do tipo que ao fazer o tal dos dezessete não tinha nenhum sonho além de ganhar um carro pra encher de piriguetes, vira-latas e desclassificadasQuerer mais é lutar mais, quero tocar em uma banda de rock, quero ver as cores dos Stradivarius, criar mais, rir mais, interpretar muito mais, montar um grupo de teatro, quero escrever sobre personagens fictícios, parar de dialogar comigo mesmo porque por mais interessante que eu seja e apesar dos dezessete eu não sou o umbigo do mundo, mas principalmente quero ter forças pra nunca deixar que mudem meu coração ou deixar que digam que meus sonhos são besteiras, desejo ser eternamente mutante. Nesse décimo-sétimo aniversário tudo o que peço é pra ser do tamanho daquilo que vejo.
M. Utida

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