terça-feira, 19 de maio de 2009

Dream Brother

Era tudo tão óbvio e redundamente errado que ela se permitiu chorar na frente de qualquer um que quisesse ver aquele fato inédito acontecer, na frente ou por trás das mulheres de sua vida, por que não? Uma não se importou e a outra nem ao menos enxergou a intensidade de toda situação, todas elas a mandaram embora, cada uma de um jeito diferente, uma miss cruél, outra doce mentirosa, iguais em desgraça, idênticas em maldade.As duas, só as duas sabiam prejudicar com os seus sentimentos desbotados, uma em pouco tempo, a outra 16 anos atrasada, sempre a deixavam com um bilhete de volta pra casa, mesmo que a casa não fosse na verdade um lar, era tudo igual, todos os dias, aquela menina que antes soube sonhar ia perdendo tudo gradual e irremediavelmente, desde a fé na vida aos seus amigos dopadinhos, desde o dinheiro em coisas trivais até seu coração petrificado, antes partido por uma ou duas vacas frias, iguais em desgraça, idênticas em interesse.Uma que a alimentava por curiosidade de saber o final daquela história toda, da novela particular que ela mesma pariu, o talk show trágico cômico criado pra divertir quem quisesse ocupar seus ouvidos.Outra que ja não alimentava porra nenhuma, que tinha lavado as mãos simplesmente porque tudo o que ela nunca sentiu ja tinha passado faz tempo, tudo o que ela ja falou tinha sido esquecido, como se suas letras nunca tivessem escritas, nem pronunciadas, elas nunca foram verdadeiras. Não deveriam ter sido, mas foram frutos da ilusão do que a menina poderia ser, do que ela um dia materialmente ja teve e oferecia com tanta dedicação aquela segunda, aquela doce, doce outra garota mentirosa, de tantos mentirosos que cruzaram seu caminho.E enquanto o médico em mim ja tinha saído do meu corpo pra observar a própria vida do lado de fora, o monstro em mim se fazia cada vez mais presente, destruindo tudo o que o lado bom tinha tentado construir, e eu face direita assistia o percurso de um lunático que em parte nenhuma poderia ser eu mesma, e eu boa menina nada poderia fazer pra impedir o que a maldade em mim havia causado ultimamente, nem poderia largar a sensação de liberdade que o monstro me dava, como se o mundo fosse meu mais uma vez, e o mar me obedecesse como fazia antes e todos se curvassem diante ao meu poder de dar e tirar tudo que um dia ja amaram, e a facilidade do tal monstro pra lidar com mágoas e pessoas mal agradecidas, meu monstro preferido, a falta de piedade em mim, a extinção de bondade era tudo que eu queria, enquanto eu médico queria me livrar da doce, doce parte ainda bondosa em mim.O lado esquerdo ganhou, ele consegue andar 16 kilometros por entre gente suja e não sentir medo de morrer, o lado esquerdo acaba em tequiladas, perde horários, me faz rir superficialmente, uma risada de luxuria e não felicidade, ele é mais forte pra lidar com as duas outras, uma mentirosa que não sabe amar, outra ordinária que não sabe se comportar como quem ja amou, ambas filhas da puta, frias, calculistas, tão iguais... Merecem o amor do meu médico e o ódio do meu monstro, mas só ela, sempre ela consegue acordar o médico em mim, minhas sobras de coisas boas, de sonhos, sacrificios e esperanças, só ela poderia matar meu monstro, meus medos, minha necessidade de destruição e replantar em mim tudo que eu ja fui um dia, minha cuba libre virgem, meus cigarros que eu troquei por ela, o sabor de bala que antes eu detestava e agora me vicia, enquanto meu médico e meu monstro esperam pela vida começar de novo, eu peço à la Jeff Buckley que você não seja como aquele que me fez envelhecer tão rápido.
M.Utida

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